"Thalita Rebouças: Parece que foi ontem
Rio - Quando um adulto sem imaginação me perguntava “o que você vai
ser quando crescer?”, eu nem pestanejava. Dizia, do alto dos meus 10
anos: “Vou ser dona de shopping”. É, eu queria um shopping só pra mim.
Depois, botei na cabeça que bom mesmo seria ter uma boate. Só pra
arrumar uma boa desculpa para dormir tarde, que era a coisa que eu mais
gostava de fazer quando pirralha. Pensei também em ser astronauta, pra
ter um foguete para chamar de meu. Enquanto sonhava com tudo isso, eu
escrevia. Muito.
Fazia livrinhos que eu mesma ilustrava e me autodenominava
“fazedora de livros”. Nem sabia que aquilo, que tanto me divertia,
podia ser chamado de profissão. Até porque era só ter papel e
imaginação. Houve um tempo em que eu também quis ser cantora do Trio Los Angeles e chacrete, mas vamos deixar isso pra lá.
Nunca deixei de escrever. Em diários, agendas, cadernos, guardanapos...
O meu negócio sempre foi me expressar pela palavra escrita. Para uma
adolescente tímida como eu, escrever era muito melhor do que falar.
Quando me formei em Jornalismo, o contato diário com a Língua
Portuguesa nas redações e assessorias de imprensa em que trabalhei
trouxe de volta o sonho de criança. Sim, eu queria escrever um livro.
Diz-se no Jornalismo que a matéria do jornal de hoje embrulha o peixe
da feira de amanhã. Um livro não embrulha peixe. Um livro fica. E eu
morria de medo disso.
Demorei para criar coragem, para dar a minha cara a tapa. Se não
fosse o Carlos, amor da minha vida e meu maior incentivador, eu talvez
continuasse sonhando. Apenas sonhando.
Lancei o meu primeiro livro há 11 anos e desde então não
parei mais. São 12 títulos publicados (seis deles em Portugal) e um
milhão de exemplares vendidos. Atingi a marca no mês passado e ainda me
surpreendo com ela. “Viver de literatura no Brasil? Impossível! Você
vai morrer de fome!”, vociferou minha família quando contei a eles a
ideia de transformar meu sonho em realidade. Superincentivo, não?
Parece que foi ontem que engoli a vergonha e subi numa cadeira na
Bienal do Livro, no Rio, para anunciar, em altos brados, o ‘Traição
entre Amigas’. Eu tinha amado escrever aquele livro, nada mais justo do
que querer que fosse lido. De lá pra cá ganhei muitos leitores
adolescentes, que me fazem a pessoa mais feliz do mundo. De verdade.
Afinal, a concorrência é
grande, eu sei (Internet, games, TV) e o público juvenil, muito
exigente. Ainda continuo escrevendo e sonhando, pois foi sonhando que
descobri que eu era capaz de fazer o “impossível”. “Viver de literatura
no Brasil? Impossível!
Thalita Rebouças é escritora"
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